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Joelmir Beting e seu filho, Mauro Beting, durante gravação do programa “Beting & Beting”, do canal Bandsports
Morreu à 1h desta quinta-feira, em São Paulo, aos 75 anos, o jornalista paulista Joelmir Beting.
Internado há mais de um mês no Hospital Albert Einstein, Beting
estava em estado de coma, decorrente de um acidente vascular encefálico
hemorrágico, ocorrido no último domingo (25) e respirava com auxílio de
aparelhos.
O velório do jornalista irá ocorrer a partir das 8h no cemitério do
Morumbi, na zona oeste de São Paulo. O enterro será no mesmo local, às
14h.
Nascido em Tambaú (SP), a 255 quilômetros da capital paulista, Beting foi um dos pioneiros da imprensa econômica brasileira.
Sua coluna diária, lançada em 1970 na Folha, foi publicada durante 34 anos em mais de 50 jornais de todo o país.
Beting também inaugurou o comentário econômico para a rádio e a
televisão, com colaborações nas emissoras Record, Bandeirantes, Globo,
TV Gazeta e Globonews.
Desde 2004, o jornalista participava do “Jornal da Band”, na TV Bandeirantes.
Ao usar linguagem simples e clara para tratar de temas áridos de
economia e finanças, Beting ficou conhecido pela capacidade de
“traduzir” o jargão econômico para o público em geral.
Ao fugir do economês, foi chamado por alguns críticos, principalmente do meio acadêmico, de “Chacrinha da economia”.
A alcunha não o incomodava. “Não falo para a dona de casa, mas para a
empregada dela”, costumava afirmar o jornalista, formado em sociologia
pela USP (Universidade de São Paulo).
Joelmir Beting e seu filho, Mauro Beting, durante gravação do programa “Beting & Beting”, do canal Bandsports
TRAJETÓRIA
Beting tornou-se jornalista alguns anos depois de desembarcar em São Paulo, segundo ele, “apenas com a roupa do corpo”.
Vinha de Tambaú, onde chegou a trabalhar, até os 7 anos, colhendo jabuticabas e limões em fazendas, ao lado do pai e do irmão.
Também foi locutor-mirim na rádio local da cidade, com cerca de 7 mil
habitantes na década de 50. A cidade chegou a 22 mil habitantes em
2010, último dado disponível do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística).
Seu objetivo na capital paulista era se tornar jornalista. Após
ingressar no curso de Sociologia na USP, trabalhou como estagiário em
veículos esportivos como “Diário Popular” e “O Esporte”.
Com a graduação concluída, em 1966, deu os primeiros passos na área econômica.
Beting trabalhava como redator em uma consultoria econômica,
elaborando relatório de empresas, quando recebeu o convite para lançar
uma editoria de automóveis no caderno “Classificados” da Folha.
Dois anos depois, assumiria a chefia da editoria de economia do mesmo jornal.
COLUNA
A primeira coluna diária foi publicada em 1970. Na Folha, os textos
foram publicados até 1991. Entre este ano e 2004, seus textos foram
veiculados em jornais nacionais como “O Estado de S. Paulo” e “O Globo”.
O motivo para o fim das colunas nos diários impressos foi uma
polêmica envolvendo sua participação em uma campanha publicitária do
banco Bradesco, em dezembro de 2003.
Na época, Beting afirmou que não tinha vínculo empregatício com os
jornais, o que o eximia de seguir as regras de conduta jornalísticas dos
veículos.
“Houve julgamento preconceituoso, que tem como base um formalismo
anacrônico”, disse o jornalista em entrevistas, meses depois do
episódio.
Estudioso, Beting tinha uma rotina pesada. “Trabalho e estudo 15 horas por dia, desde a infância em Tambaú.”
O jornalista escreveu ainda os livros “Na Prática a Teoria é Outra” (1973) e “Juros Subversivos” (1985).
Beting deixa a esposa, Lucila, com quem era casado desde 1963, e os filhos Gianfranco e Mauro, este último também jornalista.